domingo, 18 de setembro de 2011

Combates impotentes em um Belo Horizonte (ou das letras de uma cidade feitas por um Noel)

Lua clara, luzes iluminadas. Belo Horizonte vive. Corredores apinhados de garotos.
Nu, passo lento, Você cruza a rua. E pára.


Jamais assisti a uma cena tão crua, tão nua, tão sem nada,
sem pêlo, no bare...
quem a isso imagina até embrulha o estômago.


Têm medo da raiva. Têm medo da gota, têm medo do pingo.
Mas isso não é raiva. Nem gota. Nem pingo – é marca.
O reboliço é são e esperto. Os peitos são curtos e claros.
Uma aliança no dedo.


E seus amores, onde estão? Uma aliança no dedo.
Em que beco, em que cama, em que poltrona você a enfurnou, Em que fogão você a cozinhou para viver sua vida de cadela?

Deu no jornal, você sabia? Você não sabia? É manchete de primeira página: As doenças que matam o corpo primeiro corroem a alma.
Estão jogando os doentes no Arrudas. E não são só os doentes os lançados no rio da podridão:
enlutados, sofredores, amantes inveterados, perversos de todas as espécies.
Mas ainda é preciso incluir os drogados, os gozados, os maniqueados,
E todos aqueles que se fazem crentes de uma impostura.


Ora, pegam a todas, Pecam a todos, Pelam a todos.
Se fazem isso com eles, os marcados, Sem dentes e inválidos,
Com manchas e fermentos,
Quem dirá com você, vadia da minha rua, Vagabundo das minhas calçadas, harpia de meus desatinos, Ícaro de meu gozo.


Ah! Descobri que o circular da minha alma pelas noites fétidas e claras de Belo Horizonte têm fim no carnaval.
No estado em que estou, só me resta agora ser jogado no rio, afundar até o último suspiro e corroer meu grito. No entanto, eu falo sério:
a única saída para isso se encontra em um combate impotente que permite ao poeta ver que o que nos resta é vestir alguma fantasia – pode ser tosca – por que o carnaval acaba na quarta e as cinzas durarão a vida toda.
Cássio Eduardo Soares Miranda, 23.01.2009

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